As Mulheres representam cerca de 89% dos profissionais da Psicologia Brasileira — de acordo com o levantamento do Conselho Federal de Psicologia em 2022 —, o que torna inegável a importância e a relevância feminina para a construção da Psicologia no Brasil, além de suas contribuições à grade curricular e às teorias.
Devido a isso, separamos algumas das principais pesquisadoras e teóricas relevantes para a história como Mulheres da Psicologia Brasileira. São elas:
Nise da Silveira (1905-1999)

Alagoana formada como a única mulher em sua turma na Faculdade de Medicina da Bahia, e uma das primeiras médicas do Brasil, foi uma das figuras precursoras da Luta Antimanicomial no Mundo. Frente a choques elétricos, lobotomia, insulinoterapia e confinamento vistos como solução para a loucura, Nise lutou para a humanização de pacientes manicomiais e seus reconhecimentos como indivíduos, os desmarginalizando.
Psiquiatra e Neurologista, revolucionou a Saúde Mental ao relatar as consequências neurológicas dos procedimentos da época, sendo pioneira no uso das Artes Plásticas no tratamento de pacientes esquizofrênicos, além de implementar a Terapia Ocupacional no tratamento psiquiátrico.
Nise da Silveira deixou um legado humanitário reconhecido e estudado mundialmente, o que lhe levou a criar o Museu de Imagens do Inconsciente no Rio de Janeiro em 1952, contendo obras de seus pacientes – um centro vivo de estudo e pesquisa que organiza exposições, reúne grupos de estudos, promove cursos e oferece aos interessados campo para pesquisa.
Virgínia Leone Bicudo (1910-2003)

Paulista descendente de africanos escravizados e de imigrantes italianos, Virgínia foi pioneira nas diversas áreas em que atuou, sendo a primeira não-médica a ser reconhecida como psicanalista – tornando-se essencial para construção e institucionalização da psicanálise no Brasil.
Fundou sociedades de especialistas na temática em São Paulo e em Brasília, como a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, sendo diretora nos anos 1960 e 1970. Além disso, tornou-se uma das primeiras professoras universitárias negras do país, publicado alguns dos artigos fundadores sobre as Relações Raciais e o Racismo. Em 1945, defendeu uma tese de mestrado intitulada Estudo de Atitudes Raciais de Pretos e Mulatos em São Paulo, um dos primeiros trabalhos acadêmicos sobre o racismo do qual se tem notícia.
Numa entrevista à Folha em 1994, a especialista disse que escolheu estudar psicologia para se proteger do preconceito, e em seus estudos sempre tentou demonstrar como o racismo impactava na vida psíquica e na saúde mental das pessoas.
Annita de Castilho e Marcondes Cabral (1911-1991)

Idealizadora e fundadora do Curso de Psicologia na USP em 1954, Annita chefiou a identificação da área como profissão, desvinculando o curso como matéria de Filosofia e o reconhecendo como ciência, estimulando pesquisas e formando diversos alunos – como Silvia Lane. Também realizou a organização do I Congresso Brasileiro de Psicologia em 1953, além de criar a Especialização em Psicologia Clínica em 1954, importando estudos dos EUA e da Europa para as pesquisas brasileiras – como a Psicologia Experimental e a Gestalt.
Annita foi a primeira mulher presidente da Associação Brasileira de Psicólogos, de 1957 a 1958, trabalhando para que a Lei 4.119 de 27 de Agosto de 1962 fosse promulgada, regulamentando a profissão de psicólogo e criando cursos de Psicologia em várias universidades brasileiras.
Carolina Martuscelli Bori (1924-2004)

Graduada em Pedagogia e referência na Psicologia Experimental, ingressou na Psicologia ao se tornar professora assistente da disciplina que fazia parte do curso de Filosofia na USP (1948), iniciando a luta para que a área fosse consolidada como ciência e profissão no Brasil na década de 60, além de contribuir com a Psicologia para a Educação, para a Ciência, para a política científica e para a defesa da sociedade, trabalhando de forma profundamente integrada.
Sendo a primeira mulher a presidir a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em 1986, e a criação da Sociedade Brasileira de Psicologia e a Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Craduação em Psicologia (Anpepp). Lutou pela extinção do AI-5, a defesa dos direitos humanos, a liberdade de expressão e a luta contra o programa nuclear.
Carolina teve um papel fundamental na regulamentação da profissão no país, além da criação do decreto-lei que estabelece o currículo mínimo para poder se formar na área.
Silvia Lane (1933 – 2003)

Entusiasta do pensamento crítico e influente teórica da Psicologia Científica e Social, renovou grades curriculares da época ao separar as disciplinas de Psicologia Social e Personalidade, além de criar o Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da PUC SP em 1973, o segundo do Brasil – propondo o poder de transformação social pela Psicologia.
Crítica do ensino centralizado no professor, incluiu o pensamento crítico nas disciplinas responsáveis, estimulando a autonomia dos estudantes e as pesquisas da área. Sendo assim, em 1980 fundou e foi eleita presidente da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO), recebendo a premiação da Sociedade Interamericana de Psicologia como vital ao desenvolvimento da Psicologia no mundo.
Neusa Santos Souza (1948 – 2008)

Psiquiatra, psicanalista e escritora brasileira nascida na Bahia e erradicada no Rio de Janeiro, suas obras são referência sobre os aspectos sociológicos e psicanalíticos da negritude brasileira. De viés lacaniano, produziu uma obra fundamental à psicologia antirracista brasileira, articulando Franz Fanon junto a estudos históricos e sociológicos do racismo no Brasil à Freud e Lacan, sendo responsável por um excepcional trabalho com pacientes psicóticos nos hospitais que atuou.
Em 1983 publicou o livro “Tornar-se Negro: ou As Vicissitudes da Identidade do Negro Brasileiro em Ascenção Social”, dissertação de mestrado que reflete sobre diagnósticos psiquiátricos se tornaram uma forma de legitimar o sofrimento gerado pelo racismo, além de trazer o “discurso do negro sobre o negro no que tange à sua emocionalidade”, revelando reflexões sobre o custo emocional da negação da própria cultura e do próprio corpo negro. No livro, a autora explica que é necessário um raro grau de consciência para que o quadro se inverta.
Apesar de ter sido Virgínia Bicudo (1945) a primeira autora a inaugurar a discussão psicológica sobre o racismo brasileiro, foi Neusa quem abrangeu o discurso com a possibilidade de (re)organizar uma identidade negra de amor próprio a partir da construção: “ser negro não é uma condição dada, a priori. É um vir a ser. Ser negro é tornar-se negro”.
Referências:
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63704390
https://blog.cicloceap.com.br/mulheres-que-fizeram-historia-na-psicologia/
https://www.ip.usp.br/site/carolina-martuscelli-bori/
https://lume.ufrgs.br/handle/10183/200855
https://www.sbmfc.org.br/neusa-santos-souza/
https://www.scielo.br/j/mana/a/sPLnHpFwhBf8NXywjJwwXMb/?lang=pt
https://spsicologos.com/tag/neusa-santos-souza/