Desvele esse fenômeno intrigante e alguns mitos e verdades associados a ele
O Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI), conhecido anteriormente como Transtorno de Múltiplas Personalidades é um fenômeno que desperta bastante curiosidade por sua complexidade e características. O leitor já deve ter visto em filmes e programas de TV casos curiosos e impressionantes sobre o transtorno. Recentemente houve um aumento substancial de interesse sobre o tema após sua viralização nas redes sociais, o que tem levantado diversas dúvidas e discussões. Afinal, o que é e o que não é o Transtorno Dissociativo de Identidade? Descubra no texto a seguir.
Compreendendo o TDI
O TDI é caracterizado por uma fragmentação da identidade, em que diferentes partes da personalidade de uma pessoa se manifestam de forma separada e distinta em diferentes momentos. Cada identidade pode ter suas próprias características, memórias, pensamentos e emoções. As transições entre essas identidades podem ser repentinas e podem ou não ser acompanhadas por amnésia.
Os primeiros estudos sobre o TDI remontam ao século XIX, quando médicos e pesquisadores observaram casos de comportamentos e sintomas dissociativos. No entanto, foi o médico francês Pierre Janet (1859-1947) que fez contribuições significativas no campo da psicopatologia dissociativa, abrindo caminho para a compreensão moderna do transtorno.
Pierre Janet é frequentemente considerado um pioneiro na exploração dos estados dissociativos e na descrição de casos que se assemelham ao que hoje chamamos de TDI. Ele cunhou termos como “dissociação” e “automatismo psicológico” para descrever estados mentais onde a consciência, a memória e a identidade se encontravam fragmentadas.
No entanto, foi apenas nas décadas seguintes, principalmente a partir do século XX, que os estudos mais aprofundados sobre o TDI começaram a emergir. A literatura médica e psicológica começou a relatar casos de pacientes com múltiplas personalidades e sintomas dissociativos, impulsionando a pesquisa e a compreensão dessa manifestação.
O TDI ganhou mais reconhecimento nas últimas décadas, à medida que pesquisadores, clínicos e profissionais de saúde mental acompanhavam a investigação de suas causas, sintomas e tratamentos. É importante mencionar que o campo do TDI é complexo e ainda está em desenvolvimento, com cientistas e especialistas continuando a aprofundar a compreensão dessa condição única.
As causas exatas do TDI ainda são objeto de estudo e debate. Alguns teóricos acreditam que traumas graves na infância, como abuso físico, sexual ou emocional, podem desencadear mecanismos de defesa que resultam na fragmentação da identidade como uma forma de proteção psicológica. A dissociação, que é uma desconexão entre pensamentos, memórias e sentimentos, pode ser um mecanismo subjacente nesse processo.
Desmitificando o TDI
Embora muitas vezes o TDI seja retratado em filmes de maneira dramática, estereotipada e até fantasiosa é importante lembrar que o mesmo é uma condição rara. Muitos mitos e estigmas cercam o transtorno, mas entender suas bases psicológicas e os desafios enfrentados por aqueles que vivem com ele podem nos ajudar a ser mais compassivos e informados.
Mitos e Verdades sobre o TDI
- Mito: TDI é comum. Verdade: O TDI é uma condição rara, afetando menos de 1% da população.
- Mito: As identidades alternativas são violentas ou perigosas. Verdade: A maioria das identidades no TDI não é violenta e muitas vezes são criadas como mecanismos de defesa para lidar com o trauma.
- Mito: O TDI é incurável. Verdade: Com tratamento adequado, muitas pessoas com TDI podem integrar suas identidades e levar vidas funcionais e saudáveis.
- Mito: O TDI é uma forma de simulação. Verdade: O TDI é uma condição mental e não uma forma de simulação ou busca de atenção.
- Mito: O TDI é uma manifestação sobrenatural. Verdade: O TDI é um transtorno mental e não tem relação com manifestações religiosas.
O TDI em Detalhes
- Fragmentação da Identidade: No TDI, a identidade de uma pessoa se fragmenta em diferentes partes, cada uma com sua própria personalidade, memórias, pensamentos e emoções. Essas identidades podem ser chamadas de “alters” e podem variar amplamente em idade, gênero, interesses e comportamentos.
- Amnésia Dissociativa: As transições entre as identidades geralmente são acompanhadas por amnésia, ou seja, uma pessoa pode não ter memória do que aconteceu enquanto uma das identidades estava no controle. Isso é conhecido como amnésia dissociativa.
- Origens Complexas: As causas exatas do TDI ainda são debatidas, mas a maioria dos especialistas concorda que traumas severos na infância, especialmente abuso físico, sexual ou emocional, podem estar relacionados ao desenvolvimento dessa condição como um mecanismo de defesa.
- Tipos de manifestação: O TDI pode se apresentar com presença ou não de possessão. Na forma de possessão, as identidades se manifestam como se fossem agentes externos, muitas vezes assumindo a aparência de seres sobrenaturais. Essa forma difere das práticas culturais ou espirituais normais em que estados de posse são aceitos e não considerados um transtorno. Já a forma de não possessão é menos evidente, e as pessoas podem experimentar uma mudança abrupta na percepção de si, sentindo-se como meros observadores de suas ações. A amnésia dissociativa também é comum.
Possessão no TDI
Apesar do termo o TDI não possui relação com a possessão em seu sentido religioso, sendo essa expressão utilizada para descrever momentos em que diferentes “identidades alternativas” de uma pessoa tomam controle da consciência e do comportamento, atualizando a identidade principal. Essas mudanças podem parecer como se outra identidade estivesse “possuindo” a pessoa, mas na realidade, é uma expressão das partes fragmentadas da mesma pessoa. Essa linguagem é usada metaforicamente no contexto psicológico e não possui implicações sobrenaturais.
Diagnóstico Diferencial
O diagnóstico do TDI pode ser exigido devido à sobreposição de sintomas com outras condições, o que torna essencial o diagnóstico diferencial. Algumas condições que podem ser confundidas com o TDI incluem:
- Transtorno de Conversão: Caracterizado por sintomas neurológicos inexplicáveis, como paralisias e cegueira, que não têm base médica.
- Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT): Algumas pessoas com TEPT também podem vivenciar momentos de dissociação, mas o TEPT é caracterizado principalmente por flashbacks e pesadelos relacionados ao trauma.
- Transtorno de Personalidade Borderline: Pessoas com este transtorno podem ter instabilidade de identidade e problemas de autoimagem, mas não experimentam múltiplas identidades distintas.
Desafios e Tratamento
Viver com TDI pode ser profundamente desafiador para a pessoa afetada e para aqueles ao seu redor. A amnésia entre as identidades pode levar a momentos de confusão e incerteza. O tratamento envolve uma abordagem psicoterapêutica integrativa, frequentemente utiliza-se Psicoterapia psicodinâmica, terapia cognitivo-comportamental e até mesmo abordagem arteterapêutica. O objetivo é integrar as diferentes identidades, ajudando a pessoa a desenvolver um senso mais coeso de si mesma.
Conclusão
O Transtorno Dissociativo de Identidade é um exemplo fascinante da complexidade humana. Embora seja uma condição rara e muitas vezes mal compreendida, a pesquisa contínua e a conscientização podem ajudar a oferecer apoio e tratamento adequado para aqueles que vivem com o TDI. É fundamental separar os mitos da realidade e oferecer apoio e compreensão aos indivíduos que vivem com TDI. Com o tratamento adequado e o suporte necessário, muitas pessoas podem aprender a gerenciar essa condição e levar vidas produtivas e gratificantes.