Transferência e Contratransferência na Psicoterapia Breve

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Compreenda a Dinâmica Psicoterapêutica 

 

A Transferência e a Contransferência são conceitos fundamentais no processo psicoterápico, em especial nas abordagens psicodinâmicas. No contexto da Psicoterapia Breve, esse fenômeno desempenha um papel igualmente crucial. Neste texto, exploraremos a dinâmica da Transferência e Contransferência na Psicoterapia Breve, destacando alguns importantes autores da referida técnica para a compreensão desses processos.

A Psicoterapia Breve (PB) é uma técnica psicoterápica que se destaca pela sua eficácia na resolução de questões específicas dos pacientes, pois possibilita um atendimento focalizado, o que possibilita a realização do processo em um menor número de sessões. Contrariando a ideia de que o processo psicoterápico deve ser, necessariamente, longo e demorado a PB oferece resultados em um número limitado de atendimentos.

Na PB, os Psicoterapeutas se concentram em metas definidas a partir da problemática trazida pelo cliente, o que permite que os mesmos trabalhem questões específicas. É uma ferramenta eficaz no tratamento de quadros como: transtornos de ansiedade, depressão leve e moderada, dificuldades de relacionamento conjugal/familiar, atendimentos em ambiente hospitalar, entre outros.

 

O que é Transferência e Contratransferência?

Antes de mergulharmos na Psicoterapia Breve, é essencial entender o que é a Transferência e a Contransferência. A Transferência corresponde aos sentimentos, emoções e expectativas que uma paciente transfere para o Psicoterapeuta, muitas vezes com base em relacionamentos anteriores. Por exemplo, um paciente pode transferir sentimentos de raiva que originalmente eram direcionados a uma figura de referência como o pai ou a mãe para o profissional.

A Contransferência, em contrapartida, se refere aos sentimentos e respostas emocionais, pensamentos e sensações que o Psicoterapeuta desenvolve em relação ao paciente durante o processo psicoterápico. A Contransferência pode ser uma ferramenta útil para entender as dinâmicas do paciente, mas requer autoconsciência do profissional para evitar que essas reações prejudiquem o desenvolvimento do processo psicoterápico.

 

A Transferência e a Contransferência são conceitos que surgiram na Psicanálise, no entanto, existem diferenças fundamentais na forma como esses conceitos são entendidos e trabalhados na Psicoterapia Breve. Confira algumas das principais diferenças:

 

Duração do tratamento

  • Psicanálise: Na Psicanálise, os tratamentos são de longo prazo, e a transferência e contratransferência têm tempo para se desenvolverem profundamente. A relação terapêutica é vista como um espaço onde as dinâmicas inconscientes do paciente podem ser exploradas em profundidade ao longo do tempo.
  • Psicoterapia Breve: Como o nome sugere, a Psicoterapia Breve é ​​um tratamento de duração limitada, geralmente com um foco específico e objetivos claros. A transferência e contratransferência ainda desempenham um papel importante, mas o psicoterapeuta pode precisar abordar de maneira mais direta e rápida, devido à limitação de tempo.

 

Foco

  • Psicanálise: Na Psicanálise, a exploração da Transferência e Contransferência pode ser foco do tratamento, servindo como uma ferramenta para acessar conteúdos inconscientes do paciente. A relação terapêutica é vista como um microcosmo das relações interpessoais do mesmo, e o objetivo é trazer à consciência as dinâmicas inconscientes
  • Psicoterapia Breve: Na Psicoterapia Breve, o foco principal pode estar em questões específicas, como um sintoma, um problema atual ou um desafio enfrentado pelo cliente. A Transferência e Contransferência são usadas como ferramentas para entender melhor essas questões, mas o objetivo principal está no foco da problemática trazida pelo cliente.

 

Abordagem do psicoterapeuta

  • Psicanálise: O profissional frequentemente adota uma postura mais neutra e interpretativa, permitindo que o paciente explore projeções na relação terapêutica através da fala do paciente. Geralmente o Psicoterapeuta não compartilha muito de sua própria experiência pessoal, o que facilita o paciente dar-se conta de seus pensamentos sem interrupções, promovendo a autorreflexão.
  • Psicoterapia Breve: O Psicoterapeuta atua de forma mais ativa e diretiva realizando intervenções verbais como: Clarificação, Confrontação, Interpretação, Diretividade, Validação e Questionamento. Na Transferência e Contransferência pode ser explorada, especialmente quando relacionado ao foco.

Portanto, tanto na Psicanálise quanto na Psicoterapia Breve, a Transferência e a Contransferência são importantes, porém possuem diferentes funções no processo, estando a Psicanálise voltada para o conteúdo inconsciente, enquanto a PB volta-se para o foco, ou seja, a problemática que levou o paciente a buscar o atendimento.

 

Psicoterapia Breve: Tempo e Foco

A Psicoterapia Breve é caracterizada por trabalhar objetivos específicos dentro da problemática trazida pelo cliente, a saber, pontos de urgência e foco. Geralmente, essa técnica é utilizada para tratar questões mais circunscritas em um número limitado de sessões, o que possibilita a realização do atendimento em menor prazo, quando em comparação com psicoterapias de longo prazo. A limitação de tempo na Psicoterapia Breve pode ser utilizada como ferramenta para intensificar a dinâmica de Transferência e Contransferência.

 

Autores Relevantes em Psicoterapia Breve

1. Sándor Ferenczi: Psicanalista nascido em 1873, na Hungria. Ferenczi enfatizou a importância de os Psicoterapeutas refletirem suas próprias reações emocionais em relação aos pacientes. Ele acreditava que a Transferência e Contransferência poderiam ser utilizadas como uma ferramenta durante o processo psicoterapêutico.
2. Hugo Bleichmar: Psiquiatra e Psicanalista nascido em 1935, na Argentina. Contribuiu com a compreensão da Contransferência e suas implicações na PB, destacando a importância da mesma como fonte de insights sobre os processos inconscientes do
paciente. Segundo o referido autor, a Transferência não deve ser vista apenas como uma repetição de vivências passadas, mas sim, ser construída entre paciente e Psicoterapeuta de forma conjunta.
3. Otto Kernberg: Kernberg, Psicanalista e Austríaco nascido em 1928. Enfatizou a necessidade de os Psicoterapeutas refletirem sobre suas próprias reações emocionais e utilizando-as para compreender os conflitos dos pacientes. Algumas das contribuições do autor são: a discussão sobre a gestão da Transferência e Contransferência no atendimento à pacientes Borderline e na distinção entre o conceito freudiano de Contransferência e o que chamou de “Contransferência Totalista”.

Na PB, a limitação de tempo pode favorecer uma dinâmica única na Transferência e Contransferência. Os clientes podem sentir uma maior motivação para alcançar seus objetivos psicoterapêuticos devido ao prazo limitado, o que pode intensificar as projeções transferenciais. Os Psicoterapeutas, por sua vez, podem experimentar Contransferências relacionadas à urgência do tratamento.

A compreensão da Transferência e Contransferência continua sendo uma parte essencial do processo psicoterapêutico. Os Psicoterapeutas devem permanecer autoconscientes e atentos às suas próprias reações, utilizando essas informações como ferramenta para ajudar os pacientes a alcançar seus objetivos psicoterapêuticos, quando necessário.

 

Em resumo, a Transferência e Contransferência desempenham um papel importante na Psicoterapia Breve, oferecendo insights importantes para compreender os clientes e facilitar a mudança e o profissional pode optar por realizar o manejo das mesmas quando relacionada ao foco de sua intervenção. Ao utilizar a PB, o profissional deve estar atento ao foco da intervenção e assim facilitar aos clientes o alcance de seus objetivos de maneira eficaz, mesmo dentro de um prazo limitado.

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